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Pesquisas no MAC USP

Pesquisas
no MAC USP

Novas Proposições no Acervo do MAC USP
“O museu transforma a obra em objeto”. (MALRAUX)

A busca por artistas e obras sob a chave da arte afrodiaspórica no acervo do MAC USP apresenta-se como tarefa árdua, particularmente ao pesquisador que se encontra distante das rotinas da instituição. As ferramentas mais disponíveis são estudos acadêmicos (artigos, dissertações e teses), publicações (folders, catálogos e livros) e exposições que permitem a fruição do acervo. Frequentemente, esses modos de extroversão oferecem uma visão parcial das obras integrantes do Museu. A última edição do catálogo geral de obras do MAC USP é datada de 1992, com raríssimos exemplares, disponíveis em setores estratégicos, tal como a Biblioteca.

Soma-se às publicações, uma nova ferramenta de pesquisa que está disponível ao público (https://acervo.mac.usp.br/acervo/). Nesse banco de dados estão as obras incorporadas até fevereiro de 2019, porém ainda não conta com as peças que estão sob a guarda administrativa e as que passam por processo de revisão catalográfica. Os marcadores para a busca são técnicos e envolvem os dados catalográficos básicos, as exposições e as publicações das quais as obras tenham participado. Aqui deve-se mencionar que é possível agregar artistas por nacionalidade, uma vez que o local de nascimento e morte é uma dessas informações catalográficas essenciais. Contudo, esse sistema de pesquisa ainda não permite a reunião de artistas e obras sob a denominação de escolas, movimentos, estilos e temas ou ainda através de marcadores culturais, de gênero ou sociais - aqui se ressalta que esse campo existe, mas ainda não está disponível.

Para o tema Diásporas Africanas nas Américas no Acervo do MAC USP, o levantamento de listas de obras e artistas tornou-se um grande desafio. Por diversos fatores, entre eles, o distanciamento geográfico dos curadores integrantes do projeto e as medidas de prevenção à covid-19 que tornavam o trabalho de modo presencial comedido. Outras duas questões se apresentaram: a ausência de conhecimento aprofundado sobre as coleções mais destacadas no acervo e a construção do conceito da chamada arte afrodiaspórica sob a leitura do MAC USP.

Assim, optou-se por fazer buscas seccionadas que foram refinadas e, ainda hoje, são consideradas como incompletas e passíveis de novas revisões. Na primeira seleção, optou-se por reunir todos os artistas nascidos no continente africano – afinal, a chave da nacionalidade era possível pela ferramenta de pesquisa disponível. Na sequência, foram reunidos os artistas nascidos nos EUA, América do Sul e Caribe. Para a formação dessas listas, contou-se com o apoio imprescindível da equipe de catalogação e documentação do Museu. Vale ressaltar que essas listas necessitam de validação a partir da observação de cada obra e biografia dos artistas – essa é uma pesquisa ainda a ser realizada.

Outra demanda foi a seleção das obras de artistas brasileiros que, declaradamente, têm sua produção alinhada à arte afro-brasileira. Nessa seleção, levou-se em conta a história e a crítica da arte que colocam as poéticas desses artistas ligadas às preocupações desta vertente. Por último, os curadores requisitaram duas listas específicas: artistas tradicionalmente colocados sob o prisma do “primitivismo” e a reunião de obras de autoria de artistas brancos (brasileiros ou estrangeiros) com o tema ligado à arte afrodiaspórica. Para os artistas colocados na chave do "Primitivismo", optamos por listá-los na lista Artistas de Erudição Popular. Para essas duas listas foi necessária a leitura (folha a folha) do catálogo geral do MAC USP – aqui ainda corre-se o risco de acréscimo ou exclusão de alguma obra, uma vez que deve-se levar em conta as obras “sem título” e com imagens pouco reveladoras – nada substitui a visita à reserva técnica e o contato direto com a obra.

Desse modo, as listas expostas nessa seção representam a possibilidade da investigação do acervo para além dos dados técnicos e a preocupação com marcadores raciais, de gênero e sociais – que no tempo atual tornam-se relevantes para a compreensão e interpretação de obras e artistas. Por fim, entende-se que a catalogação e a documentação são instrumentos cruciais para novas proposições e novas leituras do acervo.

  • 1Historicamente, o conceito de primitivo traz diferentes interpretações e grande debate. Somado às investigações etnológicas, no século 20, o termo designa a produção artística que permanece, de algum modo, isolada e independente das “escolas de arte”. Simplicidade, ingenuidade, inexperiência, inobservância dos padrões eruditos são atributos dados à arte primitiva. Para os artistas modernos, o conceito envolve a origem - o que "vem primeiro". Assim, é considerada primitiva a arte das crianças, dos doentes mentais, a arte popular e folclórica, a arte da pré-história, a arte naïf, bem como a arte produzida fora da Europa, como a africana, a da América pré-colombiana, a indígena e a das ilhas do Pacífico. Em última análise, essa é uma chave de pesquisa polêmica porque é cercada de aspectos eurocêntricos que consideram primitiva toda manifestação portadora de valores diversos aos vigentes nas sociedades ocidentais economicamente avançadas.